SUGESTÃO PARA UMA LEITURA DE HESCHEL FUNDADA NA HERMENÊUTICA RABÍNICA

  • Lucca Bacal
Palavras-chave: Heschel, Filosofia, Religião, Judaísmo, Talmud, Fenomenologia, Esboço

Resumo

O presente artigo tem por objetivo iniciar um estudo que visa a questionar se as preocupações críticas com a existência ou não de coerência filosófica interna na obra de Abraham Joshua Heschel (1907-1972), sistematizada, por exemplo, em Marmur (2007), podem ser fruto de um desencontro metodológico com o material fonte. É possível que a ausência de rigor filosófico aponte para um rigor de outro gênero, herdado do raciocínio rabínico, ele mesmo desprovido de rigor sob a perspectiva da lógica natural (SION, 2013). Para tanto, a distinção realizada por Heschel em “God in Search of Man” entre a mente grega e a mente bíblica (por ele defendida) será tomada como ponto de partida para a discriminação dos pressupostos constituintes da sua versão autoral do que é o horizonte de sentidos judaico. Então, será realizado um breve levantamento de operações e características presentes nos corpora rabínicos centrais, a Mishná e o Talmud, que podem ecoar em operações e características presentes em Heschel. Por fim, será sugerido que determinados elementos de “Who is Man?” fundamentem-se em um conceito talmúdico, a Kushiá.

Biografia do Autor

Lucca Bacal

O presente artigo tem por objetivo iniciar um estudo que visa a questionar se as preocupações críticas com a existência ou não de coerência filosófica interna na obra de Abraham Joshua Heschel (1907-1972), sistematizada, por exemplo, em Marmur (2007), podem ser fruto de um desencontro metodológico com o material fonte. É possível que a ausência de rigor filosófico aponte para um rigor de outro gênero, herdado do raciocínio rabínico, ele mesmo desprovido de rigor sob a perspectiva da lógica natural (SION, 2013). Para tanto, a distinção realizada por Heschel em “God in Search of Man” entre a mente grega e a mente bíblica (por ele defendida) será tomada como ponto de partida para a discriminação dos pressupostos constituintes da sua versão autoral do que é o horizonte de sentidos judaico. Então, será realizado um breve levantamento de operações e características presentes nos corpora rabínicos centrais, a Mishná e o Talmud, que podem ecoar em operações e características presentes em Heschel. Por fim, será sugerido que determinados elementos de “Who is Man?” fundamentem-se em um conceito talmúdico, a Kushiá.

Referências

BRILL, A. (2006) Agadic Man: The Poetry and Rabbinic Thought of Abraham Joshua Heschel. Meorot: A Forum of Modern Orthodox Discourse pp. 3 – 21.
BOYARIN, D. The Talmud: a Personal Take. Mohr Siebek: Tübingen, 2017.
DORFF, E. N. & ROSETT, A.) A Living Tree, the Roots and Growth of Jewish Law. State University of New York Press: Nova Iorque, 1988.
GUY, M. W. Translating “Hebrew” into “Greek”: The discursive hermeneutics of Emmanuel Lévinas's Talmudic readings. Louisiana State University and Agricultural & Mechanical College, 2003.
HERSKOWITZ, D. God, Being, Pathos: Abraham Joshua Heschel’s Theological Rejoinder to Heidegger. The Journal of Jewish Thought and Philosophy, 26(1), pp. 94-117, 2018.
HESCHEL, A. J. God in Search of Man. Harper & Row, Publishers: Nova Iorque, 1955.
______________. Who is Man? Standford University Press: Califórnia, 1963.
______________. The Prophets. Harper Perennial Modern Classics: Nova Iorque, 2001.
KRAEMER, D. C. A History of the Talmud. Cambridge University Press: Nova Iorque, 2019.
LEONE, A. G. Mística e razão na dialética teológica rabínica: a dinâmica da filosofia de Abraham J. Heschel. Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas: Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
LEVENSON, J. D. The Contradictions of A.J Heschel. Commentary, 106(1), p. 34, 1998.
________________. Religious Affirmation and Historical Criticism in Heschel’s Biblical Interpretation. AJS review, 25(1) pp. 25 – 44, 2001.
MARMUR, M. In search of Heschel. Shofar, pp. 9-40, 2007.
PEARLMAN, L. Abraham Heschel’s Idea of Revelation. Scholars’ Press, Geórgia, 1989.
______________. The Eclipse of Humanity, Heschel’s Critique of Heidegger. De Grutyer: Berlim, 2016.
RICOEUR, P. A Memória, a História e o Esquecimento. Unicamp: São Paulo, 2007.
ROSENZWEIG, F. The Star of Redemption. University of Notre Dame Press: Nova Iorque, 1986. Tradução ao inglês de William W. Hallo.
ROTENSTREICH, N. On Prophetic Consciousness. The Journal of Religion, Vol. 54, No. 3, pp. 185 – 198, 1974.
SCHOLEM, G. Major Trends in Jewish Mysticism. Schocken Books: Nova Iorque, 1995.
SION, A. Logic in the Talmud, a Thematic Compilation. Publicação do autor: Geneva,2018.
STRAUSS, L. Jerusalem and Athens. Ide, 36(56), 15-47, 2013. Tradução ao português realizada por Teresinha Costa e Miranda Filho.
TAUBES, J. Occidental Eschatology. Standford University Press: Califórnia, 2009. Tradução ao inglês de David Ratmoko.
Publicado
2022-12-28
Como Citar
Bacal, L. (2022). SUGESTÃO PARA UMA LEITURA DE HESCHEL FUNDADA NA HERMENÊUTICA RABÍNICA. CADERNOS DE SION, 3(2), 71-91. Recuperado de https://ccdej.org.br/cadernosdesion/index.php/CSION/article/view/60